Início de 2025 ainda deve ser positivo para o setor leiteiro, mas com atenção aos custos de produção
14 de janeiro, 2025
De certa forma, o ano de 2024 foi positivo para o setor leiteiro, com preços pagos ao produto em patamares elevados e custos de produção menos voláteis do que o que foi observado em 2023.
Desde o final de 2024, entretanto, os preços ao produtor vêm em queda, fator relacionado ao aumento da oferta de leite no campo. Especialistas destacam que os preços do milho no início do ano, em paralelo com a queda sazonal do preço do leite, podem representar um ponto de atenção, mas será preciso observar a proporção em que estes dois fatores devem avançar.
Glauco Carvalho – economista da Embrapa Gado de Leite – explica que este primeiro semestre do ano deve ser ainda de importações elevadas, mesmo com a alta do dólar, mas acredita que deva haver uma leve desaceleração, justamente pelo fator cambial. “Isso dá uma sustentação aos preços e, pela proximidade da entressafra, o cenário pode ser melhor que o primeiro semestre de 2024”.
Em relação aos custos de produção, Carvalho destaca que deve haver um pouco mais de atenção ao milho, porque até que haja a entrada da safrinha, será um mercado ainda incerto.
O ponto mais crítico, que tende a piorar o cenário ao longo do ano, é a demanda pelo leite. A taxa Selic está subindo, devendo chegar até 15%, o crescimento do PIB deve ser menor e isso deverá pressionar negativamente o consumo. Nos últimos dois anos, houve um crescimento no consumo de quase 9 litros por habitante, com indicadores macroeconômicos bons, o que não deve se repetir em 2025”, destaca o economista da Embrapa Gado de Leite.
Conforme a análise conjuntural da equipe de pesquisadores e analistas da Embrapa Gado de Leite, “é esperado que o preço ao produtor, no primeiro semestre de 2025, siga em linha com os praticados em 2024. Para o segundo semestre, espera-se queda nos preços já que a melhoria das margens ao produtor tende a estimular a produção, fortalecendo a oferta de leite. Também é preciso maior atenção aos custos de produção que vêm sendo majorados por incertezas de oferta interna no mercado de milho, além de um cenário complicado no ambiente internacional, com potencial para impactar preços de petróleo e fertilizantes”.
A Embrapa Gado de Leite cita os seguintes pontos de atenção: o monitoramento da volatilidade climática; a tendência de que produtos com alto teor de proteína e zero açúcar devem dar fôlego adicional aos produtos lácteos funcionais em 2025; e a desaceleração no crescimento da produção na China, que deve levar a um maior equilíbrio entre oferta e demanda global nos próximos anos.
“Em síntese, o ano de 2025 é esperado que seja também um bom ano, mas aquém do que tem sido o de 2024. Os desafios climáticos e as incertezas macroeconômicas do Brasil, podem afetar o desempenho da economia, com reflexo no setor lácteo nacional”, aponta o relatório da Embrapa.
Segundo a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Natália Grigol, os preços do leite pago ao produtor vêm caindo desde outubro de 2024, apresentando tendência de queda neste início de 2025. Essa queda do preço do leite pago ao produtor está relacionada ao período de safra e ao aumento da oferta no campo.
“Então com as chuvas, maior disponibilidade de pastagens, diminui os custos com a alimentação dos animais, favorece a produção, aumenta o volume ofertado e, consequentemente, o preço cai. Vemos que este movimento de desvalorização do produto deve persistir até, pelo menos, fevereiro. Março pode ser um mês de estabilidade, mas ainda é incerto cravar como o mercado vai reagir”.
Ela explica que – levando-se em conta a sazonalidade – à medida que vai transicionando do verão para o outono, aumentando o período seco e começando a entressafra, a oferta vai diminuindo e as cotações tendem a subir no segundo e no terceiro trimestre.
“Apesar de ter este viés de queda entre janeiro e fevereiro, ainda não é possível afirmar com precisão qual será a intensidade desta queda, porque ao passo em que há diminuição da receita do produtor, ele também está encarando um aumento pontual no custo de produção”, diz Natália.
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Natália Grigol explica que, em 2024, o cenário de custos para a pecuária leiteira foi mais positivo que em 2023 e 2022. “De janeiro a novembro, o custo operacional aumentou, no acumulado destes meses, 2,7% na Média Brasil, realizada pelo CEPEA”.
Apesar desta alta, a pesquisadora destaca que foram variações pequenas mês a mês. Só mais para o final do ano que a variação ficou mais expressiva, mas ainda assim na faixa de 1% de um mês para o outro. Isso porque, no final de 2024 subiram os preços dos insumos ligados à nutrição dos rebanhos, como suplementação mineral, concentrado, milho, soja, adubos e corretivos de solo. Sendo assim, no final do ano passado, o produtor de leite perdeu parte do seu poder de compra frente a esses insumos que são tão importantes na operação.
“Neste contexto em que o produtor perde receita e os custos começam a sinalizar uma alta, fica delicado fazer previsões de preço para o próximo trimestre porque não se sabe qual vai ser o comportamento do produtor diante desta perda de poder de compra”.
Glauco Carvalho, por sua vez, comenta que o ano de 2024 se encerrou de forma mais positiva do que o esperado. No segundo semestre, a partir de maio, o preço ao produtor e a remuneração foram melhorando. O que colaborou foi o crescimento mais fraco da oferta, com o Rio Grande do Sul tendo problemas de enchentes e depois seca muito forte no terceiro trimestre. Então, 2024 deve fechar com produção crescendo 1,6 a 1,8%. Pelo nível de rentabilidade que houve, era para ter um crescimento superior, o que não ocorreu.
Houve também um processo de saída de produtores da atividade. Aqueles produtores mais eficientes, com melhor situação em relação aos custos têm obtido rentabilidade, mas outros produtores com menos tecnologia, não têm. Os custos de produção fecharam o ano perto de 4% a 5% acima do ano de 2023, mas os preços pagos ao produtor subiram mais.
Um dos questionamentos feitos por Natália Grigol é se isso pode afetar investimentos por parte do pecuarista leiteiro nas operações. De uma maneira geral, segundo ela, o setor ainda está otimista, acreditando que o produtor ainda tem capacidade de investimento na atividade e que o ano de 2025 deva ainda ser vantajoso para a pecuária leiteira.
“Para o encerramento dos cálculos de 2024, acredito que a produção deve aumentar 2% e para 2025 um percentual semelhante, apontando para uma manutenção no ritmo de investimento, o que não é um cenário ruim. Mas este avanço no custo com a nutrição dos animais preocupa um pouco em relação ao poder de compra do pecuarista no primeiro semestre, mas à medida em que as colheitas de grão forem acontecendo, a situação pode mudar e ficar muito mais positiva para o produtor de leite no segundo semestre. Essa alta no custo de produção é o principal ponto de atenção para o setor neste ano. De uma maneira geral, não há uma perspectiva negativa para 2025”, finalizou.
Fonte: Notícias Agrícolas