Nota de Conjuntura do setor lácteo

Nota de Conjuntura do setor lácteo

26 de outubro, 2023

Outubro trouxe mais um confronto armamentista, capaz de impactar o mundo todo. O conflito entre Israel e o Hamas não diz respeito diretamente ao mercado de leite e derivados, mas traz incerteza para a economia mundial. Ainda é cedo para ter clareza se haverá envolvimento de outras nações do oriente médio, a ponto de elevar o preço do petróleo, que está em torno dos US$ 90,00 o barril. Caso isso ocorra, o mundo poderá se ver em ambiente de recessão econômica, com uma nova onda de inflação mundial trazida por este produto que ainda é, de longe, a base da economia mundial.

Neste momento, as autoridades econômicas dos países da Europa e Estados Unidos convivem com taxas de inflação elevadas – motivadas pela expansão de gastos no período pandêmico – e adotam a receita clássica de taxas de juros em ascensão, o que inibe investimentos produtivos e consumo, desaquecendo a demanda. Se uma nova onda inflacionária vier, trazida por preços de petróleo elevadas, a recessão mundial, que já estava se desenhando, certamente virá mais rapidamente.

No Brasil, a economia apresenta resultados favoráveis, com o nível de desemprego menor desde 2014 e com a perspectiva de que o PIB cresça em torno de 3,0% em 2023. Desta forma, os agentes econômicos estão revendo suas previsões para cima, a cada mês. Também a inflação (medida pelo IPCA) tem apresentado quedas anuais a cada mês, sinalizando que o ano fechará com taxas próximas, porém superiores à meta estabelecida pela Autoridade Monetária. O câmbio tem oscilado em torno de R$ 5,00 na paridade com o Dólar e a balança comercial sinaliza que 2023 terá superávit recorde.

Em um cenário de queda de juros, como vem ocorrendo no Brasil, uma possível elevação do preço do petróleo poderá desfazer as perspectivas favoráveis para este último trimestre do ano, que já sinaliza que não fechará com equilíbrio fiscal. Neste caso, a queda de juros deverá ser interrompida.

Em meio a este quadro de incerteza, o mercado mundial de lácteos começa a esboçar uma fraca reação, revertendo a tendência de queda de preços. Manteiga e Leite em pó integral e desnatado tiveram elevação de preços no último GDT, porém abaixo dos preços históricos antes da pandemia. Os Queijos, por sua vez, estão com preços elevados e com viés de baixa.

No mercado interno de lácteos o quadro continua em situação aguda para os produtores, com preços bastante deprimidos. As importações apresentaram queda em setembro e poderão cair em outubro. O Governo Federal anunciou medidas fiscalizatórias quanto aos produtos importados e redução de renúncia fiscal para laticínios que importem produtos lácteos.

Todavia, o fato é que a Argentina vive um momento de imensa desvalorização cambial, trazendo competitividade inatingível para os lácteos nacionais. Este cenário não deverá mudar até que ocorram eleições presidenciais, previstas para este mês de outubro, em ambiente de extremo fervor emocional.

Por outro lado, tem ocorrido estabilidade de preços nas principais commodities (soja e milho), contribuindo para que os custos de produção se mantenham bem comportados nos últimos meses, embora em patamares elevados. O problema de margem do produtor vem pela pressão baixista de preços recebidos e não propriamente pelos custos dos insumos. Daí, toda a mobilização intensa que o setor vive, focado na busca da redução das importações. Leite em pó, UHT e Muçarela esboçaram reação de preços no atacado na primeira quinzena, mas sem o vigor para mostrar reversão de expectativa.

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

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