Recuos na oferta e demanda: a trajetória do leite em 2021

Recuos na oferta e demanda: a trajetória do leite em 2021

08 de agosto, 2022

No balanço geral, 2021 foi ruim para o setor, com queda de vendas, produção e rentabilidade, muito diferente de 2020, quando oferta e demanda cresceram, apesar do impacto do início da pandemia.

 

Em 2021, o setor lácteo nacional passou por grandes desafios, que incluiu incremento nos custos de produção, demanda enfraquecida e aperto de margens. O reflexo desse conjunto de fatores negativos foi que o setor ficou menor. A produção de leite recuou, as importações caíram e a disponibilidade de leite diminuiu. Foi um ano bastante complicado, após vivenciar um 2020 em que a oferta e a demanda cresceram, apesar de todos os problemas advindos do início da pandemia da Covid-19.

A produção de leite veio embalada de 2020, como reflexo de uma boa rentabilidade naquele ano. Já no início de 2021, a situação ficou complicada, com menos suporte financeiro governamental para as famílias, desemprego elevado e inflação em aceleração. Isso acabou prejudicando a renda das famílias, o consumo de lácteos e os repasses de preços ao longo da cadeia. No entanto, os custos de produção seguiram em elevação, o que acabou culminando em aperto na rentabilidade do setor, seja do produtor ou do laticínio.

Diante deste cenário, a disponibilidade de leite no Brasil recuou 3,6%, com volume 976 milhões de litros inferior a 2020, sendo o menor volume desde 2018. Dessa queda, cerca de 64% veio da produção interna menor e 36% da importação líquida de lácteos, que é a diferença entre o volume importado menos o exportado.

A importação líquida de lácteos recuou 29% em volume, para um total de 880 milhões de litros, com importação de 1,02 bilhão de litros, enquanto as exportações totalizaram 142,62 milhões de litros. No geral, houve diminuição de 356 milhões de litros via balança comercial no volume ofertado aos consumidores brasileiros (figura 1). Vale destacar que esse foi o menor volume importado desde 2014. Mas não é um motivo para se valorizar, já que tal queda esteve muito relacionada à fraca demanda interna.

Além da queda observada no leite vindo do exterior, o desempenho da produção nacional também foi fraco. Os últimos dados da Pesquisa Trimestral

do Leite, do IBGE, trazendo as informações preliminares referentes à produção inspecionada em 2021, mostraram volume de 25,02 bilhões de litros produzidos no País, o que é equivalente à produção de 2019 e 2,3% menor que 2020 (figura 2). O desempenho da produção foi particularmente pior no segundo semestre, em que os preços do leite desaceleraram e os custos de produção seguiram em alta.

No balanço geral, pode-se dizer que foi um ano ruim para o setor, com queda de vendas, produção e rentabilidade. A dependência quase exclusiva do mercado consumidor interno acabou colocando uma barreira no crescimento do setor, gerando dificuldades quando a renda das famílias fica estagnada.

Nesse contexto, buscar crescimento das exportações pode ser um caminho interessante, até para aproveitar momentos de forte crescimento da economia global.

Além disso, grandes exportadores de lácteos tendem a ter mais dificuldades para expansão continuada da oferta nos próximos anos, como o caso da Nova Zelândia. E a tendência é de demanda crescendo internacionalmente, o que abre oportunidades para o Brasil, que ainda tem grande potencial para crescimento de sua produção. Mas isso vai exigir investimentos, conhecimento, acesso a mercados, qualidade dos produtos e aspectos sanitários, de modo a aumentar nossa competitividade internacional.

 

Escrito por: Glauco R. Carvalho e Denis Teixeira da Rocha

Fonte: Anuário Leite 2022 / Embrapa

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