Marcelo de Paula Xavier
Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios
canaldoleite@terra.com.br
Jersey: a solução mais lucrativa e sustentável para a pecuária de leite na Austrália
10 de dezembro, 2024
Escrito por Marcelo de Paula Xavier, M.Sc.*
Novas evidências científicas provam que a raça Jersey tem os atributos que podem torná-la a mais lucrativa e sustentável na Austrália.
Segundo os estudos dos consultores Steve Little e Scott Barnett, as vacas Jersey têm maior fertilidade, maior eficiência de produção, maior tolerância ao calor e mais longevidade. A Jersey tem uma vantagem de 14% no custo de produção de leite (por kg de sólidos) sobre a Holandesa Frísia, o que se reflete em um melhor retorno sobre os investimentos.
A Associação de Criadores de Jersey da Australia contratou o Dr. Little, da Capacity+ Ag Consulting, para revisar evidências em estudos publicados sobre os atributos da raça Jersey em comparação com outras raças. Após a publicação do relatório (Jersey - a vaca mais lucrativa e sustentável), a associação contratou o consultor Scott Barnett, para realizar uma modelagem econômica computacional de vacas Jersey versus Holandesas, nos sistemas de produção de leite australianos.
O diretor executivo da Jersey Australia, Glen Barrett, disse que os estudos independentes respaldaram o que os jersistas vinham alegando há anos: as vacas Jersey são mais lucrativas e sustentáveis.
“Trabalhamos com o princípio de que a Jersey é a vaca mais lucrativa na pecuária de leite. Esta foi uma oportunidade de reunir evidências concretas para apoiar isso... Precisávamos dos fatos para respaldar a alegação e agora os temos. Todas as evidências são apoiadas por pesquisas que resistirão a qualquer escrutínio”, disse o Sr. Barrett.
Segundo ele, as descobertas dos estudos serão usadas para divulgar a raça e informar os fazendeiros sobre os benefícios da transição para a raça Jersey. “Nossa ambição é ter 25% de vacas Jersey no rebanho leiteiro nacional até 2030... Os fazendeiros estão buscando lucratividade e agora temos a prova de que a Jersey é a vaca mais lucrativa.”
Cabe destacar que, atualmente, o gado Jersey representa cerca de 15% do rebanho australiano e esse número tem aumentado constantemente na última década.
A raça mais produtiva
A revisão do Dr. Little constatou que as vacas da raça Jersey:
- Produzem de 6 a 11% mais leite corrigido por energia (ECM) do que as Holandesas por quilograma de matéria seca consumida;
- Produzem de 26 a 31% mais ECM por 100 kg de peso corporal do que as Holandesas;
- Possuem uma capacidade de consumo de alimentos cerca de 14 a 21% maior do que as Holandesas por 100 kg de peso corporal; e
- Têm aproximadamente 5% mais capacidade de consumo de alimentos do que as Holandesas por unidade de peso metabólico.
"Esta revisão descobriu que o Jersey australiano tem vários atributos em comparação com outras raças usadas na pecuária de leite, os quais podem contribuir para a lucratividade e sustentabilidade dos negócios de fazendas leiteiras australianas", disse o Dr. Little.
"Ao fazer esta revisão, descobri que a Jersey é notavelmente diferente de outras raças em várias maneiras. Gostaria de saber o que sei agora sobre Jerseys e como gerenciar sua nutrição quando eu era um jovem consultor de fazenda", ressaltou ele.
As concentrações de gordura e proteína no leite Jersey são maiores do que no leite Holandês em cerca de 1,1-1,4 gramas/100 ml e 0,50-0,56 g/100 ml, respectivamente. Além disso, o leite Jersey tem maiores concentrações de cálcio, fósforo e zinco, mas uma menor concentração de potássio.
Por outro lado, "a fertilidade salta como uma vantagem significativa" para a raça Jersey em relação à Holandesa. Segundo o Dr. Little, isso deve ser provavelmente devido à seleção genética e ao metabolismo energético – particularmente no período de transição e no início da lactação – deixando as Jerseys em balanço energético negativo por um tempo menor.
Elas também são mais tolerantes ao calor devido à sua pelagem, estrutura da pele, camada de gordura subcutânea e proporção entre a área de superfície corporal e o seu volume.
Além disso, "as Jerseys tendem a viver mais, produzir por mais tempo e sobreviver a lactações tardias com mais frequência do que as Holandesas em rebanhos puros e mestiços", disse o Dr. Little. “A maior longevidade significa que a produção média de leite do rebanho é maior e menos novilhas de reposição (não produtivas) são necessárias.”
O pesquisador resalta ainda que as Jerseys tem uma maior capacidade de comer em relação ao seu peso e corporal, além de que elas passam mais tempo pastando e comendo de forma mais uniforme ao longo do dia. Conforme ele, há ainda evidências indicando que as Jerseys tem maior digestibilidade de fibra em detergente neutro (FDN) e podem utilizar o nitrogênio da dieta de forma mais eficiente.
A revisão descobriu que as vacas Jersey também parecem estar tendo um bom desempenho em rebanhos de animais cruzados. Segundo o dr. Little, elas demonstraram vantagens em sistemas de pastejo, longevidade, vida produtiva, facilidade de parto, fertilidade, tolerância ao calor e contribuição de vigor híbrido. Ademais, elas são mais adequados para caminhar longas distâncias para pastejo e conseguem se adaptar a diferentes sistemas de produção.
Por fim, a raça Jersey tem potencialmente uma pegada ambiental menor. “Vários estudos sugeriram que a intensidade de emissão na produção de leite é cerca de 8-12% menor para um rebanho Jersey em comparação com um rebanho Holandês, quando a abordagem de análise do ciclo de vida foi usada para calcular as emissões de GEE”, disse o Dr. Little.
Conclusão
As evidências científicas destacam a raça Jersey como uma opção altamente vantajosa para a pecuária leiteira na Austrália, tanto em termos de lucratividade quanto de sustentabilidade. Com atributos como maior fertilidade, eficiência na produção de leite, maior tolerância ao calor e longevidade, as vacas Jersey demonstram ser mais econômicas e sustentáveis em comparação com outras raças, como a Holandesa Frísia.
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*Marcelo de Paula Xavier, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.