Cenário baixista nos preços internacionais dos lácteos
03 de novembro, 2022
Nesta semana, foi realizado mais um leilão na plataforma Global Dairy Trade (GDT) e o cenário baixista prevaleceu por mais uma quinzena, com os preços registrando a terceira queda consecutiva. Neste evento nº 319, houve um recuo de 5,0% no preço médio dos lácteos negociados, os quais atingiram o menor valor desde janeiro de 2021, fechando em US$ 3.537 por tonelada.
Em relação ao último leilão, correu um recuo de 1,82% no volume negociado, que totalizou 28.867 toneladas de lácteos. Esse comportamento diferiu dos últimos anos, quando ocorreram leves avanços no volume negociado para a primeira quinzena de novembro.
Dentre as variações dos preços dos derivados, observou-se os seguintes movimentos:
- Queijo cheddar (+0,7%), fechando em US$ 4.802 por tonelada;
- Manteiga (+0,4%), fechando em US$ 4.868 por tonelada;
- Gordura anidra de Leite (-1,7%), fechando em US$ 5.562 por tonelada;
- Leite em pó integral (-4,2%), fechando em US$ 3.279 por tonelada;
- Leite em pó desnatado (-8,6%), fechando em US$ 2.972 por tonelada.
Os preços médios do leite em pó desnatado sofreram a segunda queda expressiva consecutiva, fechando abaixo dos US$ 3.000 por tonelada pela primeira vez desde julho de 2021. Os preços do leite em pó integral sofreram, também, mais um recuo significativo, passando de US$ 3.421 /tonelada para US$ 3.279 /tonelada (menor valor desde dezembro de 2020).
Este cenário se deu pela elevação da oferta mundial, em contraste com uma demanda ainda desestabilizada. Devido à sazonalidade de produção, entre os meses de agosto e setembro, a Nova Zelândia elevou em 88,6% a sua produção, com tendência de novos avanços para o mês de outubro.
Outros países – como Argentina, Uruguai e Estados Unidos – também tiveram uma elevação da produção, o que tende a ocasionar uma pressão de baixa nos preços no mercado internacional. O Uruguai elevou em 6,4% sua produção entre agosto e setembro e a Argentina, 1,1%.
Do lado da demanda, ainda não ocorreram reações por parte dos grandes players do mercado, como por exemplo a China. No acumulado do ano até setembro, o país asiático manteve uma demanda enfraquecida pelos derivados lácteos. O volume total importado por parte da China da Nova Zelândia, por exemplo, registrou um recuo de -13,7%.
Recentemente o líder da China, Xi Jinping, foi reeleito para o seu terceiro mandato de 5 anos. Este fator contribuiu para fortalecer a tendência da política de tolerância zero contra a Covid-19 e novas restrições foram impostas, com várias províncias chinesas tendo algum tipo de bloqueio. Mas, este cenário parece estar se revertendo, trazendo esperanças para o mercado de que a haja um fim nas restrições.
Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral na plataforma GDT e na Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures), tem-se as seguintes projeções:
- GDT projeta uma estabilidade na casa dos US$ 3.300 por tonelada;
- NZX Futures projeta leves altas, com os preços se mantendo na casa dos US$ 3.200 por tonelada.
Impactos do leilão GDT no mercado brasileiro
Considerando a cotação do dólar no dia 31/10/2022 (R$ 5,25) e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.279,00 por tonelada), pode-se chegar ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,06 por litro.
Esse valor está baixo, se comparado com o leite pago ao produtor brasileiro no mês de outubro (R$ 2,85 por litro, na média Cepea/Esalq) e também inferior na compação com o preço do leite spot da segunda quinzena de outubro (R$ 2,55 por litro – média Brasil).
Em meio a alta volatilidade, o real voltou a ganhar força frente ao dólarchegando a atingir R$ 5,40 após as eleições, devido as incertezas do processo de transição política. Porém, o cenário se reverteu e a moeda fechou em R$ 5,25 nesta segunda-feira. Vale destacar que o cenário ainda está extremamente incerto e novas oscilações tendem a ocorrer nos próximos dias, principalmente quando o novo ministro da economia for anunciado.
No mercado interno, os preços dos derivados lácteos vêm recuando nas últimas semanas, frente a um cenário desafiador, com uma demanda ainda enfraquecida e uma oferta em ascensão devido a sazonalidade de produção, refletindo em uma pressão de baixa para os preços praticados nos derivados lácteos.
Desta forma, o cenário de recuo nos preços do mercado internacional de lácteos, associados a queda do dólar, contribui para elevar a competitividade dos produtos internacionais. Por outro lado, as quedas no mercado interno atuam no sentido contrário. Em um primeiro momento, ainda deve-se observar importações competitivas e a janela de exportações fechada. Porém, devido a sazonalidade histórica das importações, nos próximos meses os volumes negociados tendem a perder força.
Fontes: Global Dairy Trade e Milkpoint