Incertezas no mercado pressionam os preços do leite em maio
31 de maio, 2020
Depois de registrarem altas consecutivas de dezembro de 2019 a abril de 2020, os preços do leite pagos ao produtor caíram em maio. A “Média Brasil” líquida referente à captação de abril foi de R$ 1,3783/litro, caindo 5% frente ao mês anterior e 11,2% em relação aos preços pagos em maio/19 (em termos reais). De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a desvalorização do leite no campo se deve às incertezas no mercado de derivados que, por sua vez, decorreu da crise causada pela pandemia de coronavírus.
Abril marcou o primeiro mês completo de enfrentamento à pandemia, o que gerou uma nova dinâmica de consumo da população. Além de o atendimento dos serviços de alimentação (importantes canais de distribuição de lácteos) ter sido prejudicado pelo agravamento da pandemia, também houve a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores. Segundo agentes consultados pelo Cepea, esses fatores tiveram impactos negativos sobre a demanda de lácteos no correr de abril.
De acordo com a pesquisa diária do Cepea, o preço do leite UHT registrou queda acumulada de 17,8% em abril. Ainda assim, a média mensal de R$ 2,87/litro ficou 8,41% acima da registrada em março/20. O mercado de queijo muçarela também foi afetado pelo cenário atual, registrando demanda enfraquecida e volume reduzido de negociações. Esse derivado apresentou desvalorização acumulada de 8,3% em abril, e o preço médio mensal fechou a R$ 17,93/kg, recuo de 5,97% em relação ao de março.
Por outro lado, a entressafra da produção leiteira avança no Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, a estiagem prejudica a atividade e compromete a quantidade e a qualidade da produção de silagem para os próximos meses. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea registrou queda de 0,6% de março para abril na “Média Brasil” e acumula baixa de 12,4% neste ano.
Tipicamente, neste cenário, as indústrias empenhariam esforços para recompor seus estoques. Não obstante, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos aumentaram o nível de incerteza em abril e diminuíram o investimento das indústrias em estoques, pressionando as cotações no campo em maio.
Junho
Como o preço do leite ao produtor é formado depois das negociações quinzenais do leite spot (negociação de leite cru entre indústrias) e das vendas de lácteos, as cotações no campo de junho refletirão o mercado de derivados de maio. Durante este mês, observou-se que a produção de leite no campo diminuiu. Como consequência, pesquisas do Cepea apontam que o preço médio mensal do leite spot em Minas Gerais em maio foi 6,7% maior que o de abril, em termos nominais. A menor oferta no campo em maio e a menor produção de derivados em abril, por sua vez, reduziram os estoques de UHT e muçarela neste mês, favorecendo o aumento das cotações.
De 4 a 27 de maio, a pesquisa diária do Cepea mostrou alta acumulada de 14,4% para as cotações de UHT e elevação de 15,7% para as de muçarela. Ainda assim, as médias mensais parciais dos preços do UHT e da muçarela neste período, de R$ 2,68/litro e de R$ 17,90/kg, são 6,62% e 0,1% menores que as respectivas médias de abril.
Gráfico
O gráfico de Cepea abaixo mostra a série de preços médios líquidos recebidos pelo produtor, em valores reais (deflacionados de IPCA em abril de 2020).
Fonte: CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada