Marcelo de Paula Xavier


Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

canaldoleite@terra.com.br

PUBLICAÇÕES

Por que o número de vacas Jersey vem aumentando na América do Norte?

18 de novembro, 2021

Escrito por Marcelo de Paula Xavier, M.Sc.*

 

O portal Dairy Global publicou, recentemente, um artigo interessante que mostra alguns dos motivos para o aumento expressivo do Jersey na América do Norte, notadamente nos EUA e no Canadá.

De modo geral, a afirmação feita por Russell Gammon (ex-diretor da Jersey Canada e figura notória no setor), logo no começo da publicação, resume bem a questão: “É uma vaca feita para a indústria do leite atual!”

As Jerseys são mais eficientes economicamente do que as vacas de outras raças, consumindo menos alimentos para produzir a mesma quantidade de leite. Elas também geram menos dejetos e há novas evidências de que elas podem comer grandes quantidades de forragem, sem depender tanto de concentrados e mantendo a produção.

O leite das vacas Jersey, por outro lado, é de qualidade substancialmente superior, bem como sua fertilidade e facilidade de parto. Além disto, elas se adaptam muito bem aos robôs de ordenha. Esses atributos excepcionais são conhecidos há décadas e contribuem para o crescimento sustentado da raça no Canadá e nos Estados Unidos.

A raça no Canadá

Russell Gammon explica que, no Canadá, “o número de Jerseys atingiu o pico por volta de 1960. Na época, havia um programa nacional, muito popular, para comercializar o leite Jersey separadamente. No entanto, com o ‘pooling de leite’ [entrando em vigor], esse programa terminou e começou um forte declínio nos números da raça.”

No início da década de 1990, foi introduzido o pagamento do leite por “múltiplos componentes”, em que os produtores são pagos por gordura e proteína separadamente. Isso renovou o interesse pela raça. Ao mesmo tempo, um forte mercado de exportação de sêmen e vacas Jersey também se desenvolveu, principalmente para os Estados Unidos, mas também para países como Colômbia, Brasil e México.

Em 2003, com os casos de doença da vaca louca (BSE), as exportações canadenses despescaram, mas a Jersey Canada acabou usando isso a seu favor. “Houve algum dinheiro para a recuperação da indústria fornecido pelo governo por volta de 2005 e a associação investiu sua parte na expansão das vendas de vacas e na educação”, afirma Gammon.

Outro fator pró-Jersey surgiu por volta de 2008, quando os conselhos provinciais de leite começaram a permitir o processamento nas fazendas. Isto abriu oportunidades para a comercialização do leite, mais rico e saboroso, da raça Jersey. No total, cerca de 15 fazendas canadenses de Jersey fabricam e comercializam seus próprios produtos, a grande maioria localizada no Quebec. O maior teor de gordura no leite resulta em produtos mais macios e saudáveis e a demanda só vem aumentando.

Por outro lado, “as ordenhas robóticas começaram a pegar e as jerseys se adaptam bem [neste sistema]; elas são ordenhadas facilmente e aprendem rápido”, explica Gammon. “Também houve alguma redução no pagamento do leite com menor teor de gordura, o que também tornou as Jerseys atraentes.” As vacas Jersey podem produzir em torno de 5% de gordura e o leite Jersey é cerca de 15% mais rico em cálcio e contém mais proteínas e vitamina B12.

No início dos anos 1960, registravam-se 17.000 Jerseys por ano no Canadá e, agora, isso se estabilizou em cerca de 12.000. Segundo Gammon, “cerca de 90% dos animais Jerseys são registrados e o número de rebanhos associados na Jersey Canada tem se mantido entre 1.000 e 1.100 há algum tempo”.

“Ontário costumava dominar, mas tem havido um crescimento fenomenal no Quebec. Uma razão para isso é a sua regulação ambiental sobre os níveis de fósforo (P) no solo – a mais rígida da América do Norte – que reduz significativamente a quantidade de estrume que pode ser aplicada nos campos", comenta Gammon. A Jersey produz 50% menos P em seus dejetos em comparação com outras raças leiteiras.

Existem cerca de 10.000 fazendas leiteiras no Canadá e o Jersey vem ganhando destaque. "Eu não acho que haja dúvida de que haverá mais crescimento [da raça]. No fim, tudo se resume à economia”, finaliza ele.

Panorama nos EUA

Nos EUA – que tem cerca de 10 vezes a população de Jersey do Canadá – o rebanho aumentou de 63.000 animais em 1980, para cerca de 362.000 em 2021. A maioria das vacas jerseys é encontrada na Califórnia, seguida por Wisconsin e Oregon.

Kim Billman (diretora de comunicação da Associação Americana do Gado Jersey) observa que, de 2000 a 2019, as vacas Jersey ordenhadas nos EUA aumentaram em relação ao total de vacas das 5 principais raças leiteiras (Jersey, Holandês, Guernsey, Pardo Suiça e Ayrshire), de 3,8% a 13,4%. Já, a porcentagem de vacas holandesas ordenhadas caiu de 95% para 86%, durante esse período.

Da mesma forma que acontece no Canadá, Billman diz que “as jerseys tiveram um crescimento considerável devido à forma como o leite é precificado na maior parte do país. Além disso, muitos rebanhos holandeses fizeram a transição para o Jersey, pois é a raça mais econômica, com base na eficiência alimentar, eficiência reprodutiva e lucratividade geral. Continuamos a ver mais e mais rebanhos mistos em nossa população, pois muitos rebanhos de Holandês, Pardo Suiço e Ayrshire continuam a colocar o Jersey para adicionar sólidos no tanques e melhorar o pagamento do leite.”

Como também é o caso no Canadá, um número crescente de produtores de Jersey nos Estados Unidos está optando por processar seu próprio leite, comercializando leite e queijos artesanais. “Ambas as opções são essencialmente nichos de mercado e atraem o segmento de consumidores que se preocupam em comer ou comprar localmente”, diz Billman, mas ela acrescenta que o maior teor de gordura (cremosidade), proteína e cálcio no leite e no queijo também atraem os consumidores.

Eficiência alimentar

O professor da Universidade de Nebraska-Lincoln, Paul Kononoff, publicou recentemente um estudo sobre o desempenho do gado Jersey com uma dieta rica em forragens, seguindo uma pesquisa feita anos atrás no Reino Unido.

“Alimentamos as Jerseys com mais FDN [fibra em detergente neutro], e mais forragem, e a produção de leite foi mantida”, diz Kononoff. “Os dados são limitados, mas acho que, juntos, esses documentos sugerem que as Jerseys podem ser alimentadas com concentrações ligeiramente maiores de forragem.”

A eficiência alimentar – e as outras qualidades do Jersey – continuarão a melhorar com o progresso genético. Billman relata que, nos Estados Unidos, tem havido um grande esforço para analisar a genética de vacas leiteiras com a genotipagem de centenas de milhares de Jerseys. “O intervalo de geração reduzido e a precisão aprimorada de seleção”, diz ela, “contribuíram para acelerar o avanço genético da raça”.

Para Gammon, "na América do Norte, por muito tempo, as Jerseys foram consideradas como não sendo produtivas o suficiente, como vacas bonitas, mas não produtoras de respeito. Porém, agora, por uma ampla variedade de razões muito importantes, é mais inteligente ordenhar Jerseys.”

 

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*Marcelo de Paula Xavier, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.

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