Alerta: A conta não fecha para produtores de leite

Alerta: A conta não fecha para produtores de leite

30 de janeiro, 2022

O aumento nos custos do leite foi um dos piores agravantes na atual crise do setor. O índice de custo de produção, atingiu 30,0% em 2021, reduzindo a margem de lucro dos produtores. 

Especialistas da Embrapa Gado de Leite (MG) recomendam cautela para o setor lácteo no ano que se inicia. Fatores decorrentes da pandemia, como desemprego, redução de renda e endividamento das famílias, continuarão impactando a cadeia do leite brasileira em 2022. As análises conjunturais sugerem que este ano não será muito diferente daquele que passou, mas, em contrapartida, projeções apontam um cenário positivo para a próxima década, com um crescimento esperado de 36%, impulsionado pelo aumento da população mundial e pela elevação do poder aquisitivos nos países da Ásia, África e América Latina.

Na última reunião de conjuntura de 2021, a equipe do Centro de Inteligência do Leite apresentou números que sugerem atenção por parte dos agentes produtivos. Para o analista José Luiz Bellini, o esperado fim da pandemia não se concretizou, mantendo as incertezas na economia mundial. “Nos dois últimos anos, praticamente todas as cadeias mundiais de produção e suprimento sofreram com a elevação dos custos e problemas de abastecimento, provocando inflação generalizada”, argumenta.

Segundo ele, embora tenha havido avanços substanciais no combate ao vírus, persistem incertezas que impactam a produção de bens e serviços com repercussão ao longo das cadeias produtivas. Além disso, as ações de estímulo dos governos das principais economias mundiais para alavancar o crescimento econômico afetado pela pandemia, também geraram processo inflacionário global.

Se, em 2020, a cadeia produtiva do leite colheu bons frutos devido ao auxílio emergencial de R$ 600,em um patamar elevado, com uma curva de ascensão antecede à pandemia, sendo que o aumento da taxa cambial chegou a 44% nos 3 anos últimos. Esse foi um dos fundamentos econômicos que elevou a inflação brasileira a dois dígitos, algo que não acontecia desde 1994, contribuindo para que a renda das famílias caísse 20% em relação a 2019.

Outros fatores que prejudicam o consumo, com forte impacto no ano que se inicia, segundo o CILeite/Embrapa, são o elevado desemprego (12,6%) e a taxa de endividamento das famílias brasileiras (67%). Fechando o cenário macroeconômico, a taxa Selic, elevada pelo Banco Central para conter a inflação, chegou ao seu maior nível desde 2017 (9,25%), encarecendo os investimentos e o crédito e, com isso, inibindo o consumo.

Custos altos vs. baixa margem de lucro: conta não fecha para produtores brasileiros

O aumento nos custos de produção do leite foi um dos piores agravantes na atual crise do setor. O índice de custo de produção, calculado pela Embrapa Gado de Leite (ICPLeite) já vinha de uma elevação de 10,7% em 2020 e atingiu 30,0% em 2021, reduzindo a margem de lucro dos produtores. Segundo o pesquisador da Embrapa Samuel Oliveira, o que mais impactou esse índice foi a alimentação do rebanho. A produção e compra de volumosos teve um aumento de 75%, a alimentação concentrada, 26% e o sal mineral, 53%.

Os outros fatores que pesaram nos custos foram a alta da energia elétrica e a dos combustíveis, com elevação de 27% em 12 meses, lembrando que o preço do petróleo também impacta o preço dos fertilizantes. O pesquisador explica que a valorização das commodities está na raiz desses aumentos. O preço da soja e do milho, presentes na formulação da ração concentrada, por exemplo, encontram-se numa curva ascendente há cinco anos, disparando nos anos de pandemia.

Segundo análises da Embrapa Gado de Leite, custos mais elevados de produção e a redução de preços reais recebidos pelos produtores da ordem de 5% em 2021, impactaram negativamente as margens de lucro. Em 2020, o preço real líquido do leite pago ao produtor fechou o ano em R$ 2,44. Já em dezembro do ano passado, o valor ficou em R$ 2,13. 

No mercado spot (compra de leite entre laticínios) o recuo foi ainda maior: dados de dezembro do ano passado, em Minas Gerais, apontavam um preço médio de R$ 2,08. Na entressafra daquele ano, o leite no mercado spot mineiro atingiu o pico de R$ 2,78.

Quanto ao atacado dos produtos processados pelos laticínios, os principais produtos registraram queda real de preços em 2021. O leite UHT registrou queda de 8,9% passando de R$3,88/litro em 2020 para R$3,53/litro em 2021. O queijo muçarela, produto que mais subiu de preço no primeiro ano de pandemia, fechou o ano passado próximo do seu preço histórico (R$ 27,30/kg – em 2020, o produto chegou a ser vendido pela indústria por cerca de R$ 30,00/kg).

Segundo Bellini, os valores na indústria foram impactados pelo aumento dos custos de produção, logística e energia. Os especialistas reconhecem que o atual preço dos derivados esteja sendo influenciado pela acanhada demanda em função da diminuição de renda das famílias.

A ajuda que pode vir do céu

Em contrapartida, um dos fatos positivos que surge na aurora de 2022 vem do céu: a expectativa é que o clima interfira positivamente no agronegócio. Apesar de poucas chuvas nas regiões Sul, a safra de grãos deve caminhar para um bom volume este ano. Segundo Bellini, trata-se de um fator que pode manter o preço do concentrado no atual patamar ou mesmo reduzir o custo da ração, lembrando que o item alimentação foi um dos grandes fatores da alta dos custos de produção de leite em 2021.

Outra expectativa positiva se concentra no Auxílio Brasil para a população de baixa renda, que deve ser canalizado para a compra de alimentos. No entanto, o também pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Carvalho não acredita que o Auxílio Brasil terá o mesmo impacto no setor que teve o Auxílio Emergencial do governo durante o primeiro ano de pandemia.

Fonte: Compre Rural

  • Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Como a vaca Jersey evoluiu para se tornar um fenômeno global

  • Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Últimas vacas Jersey classificadas EX-96 e EX-97 nos Estados Unidos

  • Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

    Marcelo de Paula Xavier

    Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

    Raça Jersey quebra a barreira das 1.000 libras de gordura nos EUA

COMPARTILHAR

CONTEÚDOS ESPECIAIS

Proluv
Top