A plataforma Global Dairy Trade (GDT) realizou, ontem (17/05), seu Evento nº 308, trazendo uma certa estabilidade para os preços dos derivados lácteos no mercado internacional. Após quatro recuos consecutivos, os preços médios apresentaram um leve aumento de 0,29%, fechando em US$ 4.432,00 por tonelada. Nesta quinzena, no entanto, foram negociadas 24.285 toneladas de lácteos, volume 3,49% menor em relação ao último leilão.

Com exceção da gordura anidra de leite, com alta de +0,6%, todos os outros produtos comercializados neste último leilão apresentaram variações negativas:

• Leite em pó integral (-4,9%), fechando em US$ 3.934,00 por tonelada;
• Manteiga (-1,0%), fechando em US$ 5.750,00 por tonelada;
• Leite em pó desnatado (-0,34%), fechando em US$ 4.116,00 por tonelada;
• Queijo Cheddar (-0,1%), fechando em US$ 5.635,00 por tonelada;

Um dos pontos principais que contribuíram para este cenário foi a expectativa de volta a normalidade na China, que – após impor severos lockdowns em cidades estratégicas do país – começa a demonstrar que deve abrandar as restrições. Xangai, por exemplo, anunciou que pretende reabrir o comércio por etapas, após semanas de lockdown. 

Porém, o momento é de cautela e o mercado encontra-se extremamente volátil. Qualquer alteração nesta dinâmica pode impactar significativamente, tanto para um cenário altista, quanto baixista.

Em relação aos contratos futuros de leite em pó integral, pelo menos no curto prazo, os preços se mantêm em patamares baixos. A plataforma GDT projeta estabilidade, permanecendo abaixo dos US$ 4.000 / tonelada até agosto. O NZX Futures, por sua vez, projeta uma queda inicial, seguida de ascensão. Ambas as projeções são para preços superiores a U$ 4.000 a partir de agosto; ou seja, uma retomada de possível cenário altista.

Reflexos do leilão GDT no mercado brasileiro

Podemos considerar o câmbio do dia 16/05/2022 (R$ 5,06) e o valor do leite em pó integral internacional (US$ 3.934,00 / tonelada), para chegarmos ao preço equivalente de um leite importado, colocado no Brasil, que seria de R$ 2,41 por litro. Este valor está equivalente ao leite pago para o produtor brasileiro em abril (R$ 2,43 / litro, na Média Cepea), além de ser um valor abaixo do preço do leite spot na primeira quinzena de maio (R$ 2,94 / litro – média Brasil).

Os preços tiveram uma elevação ao produtor em abril e, para o curto prazo, a tendência é que haja mais aumentos. A prévia de captação de leite do IBGE (divulgada nesta última semana) trouxe um cenário baixista para a oferta de matéria-prima. O número divulgado para o primeiro trimestre de 2022 (5,8 bilhões de litros de leite) é 10,51% inferior à captação no mesmo período do ano passado. Esta queda é recorde e impacta diretamente na disponibilidade de leite no mercado.

Em uma semana de grande volatilidade, o dólar voltou a perder força devido à política monetária internacional e a divulgação do aumento da inflação nos Estados Unidos. Com um cenário incerto e volátil, qualquer ação pode trazer alterações no cenário vigente.

Nesse cenário, apesar das importações e exportações brasileiras de lácteos serem realizadas, em grande parte, com os países do Mercosul (principalmente Argentina e Uruguai), os preços do leilão GDT refletem diretamente e indiretamente na dinâmica do mercado lácteo no Brasil. Os preços internacionais praticados no GDT são parâmetros e indicadores para os demais preços internacionais.

Com os preços internacionais se mantendo estáveis – pelo menos a curto prazo – o dólar recuando e os preços no mercado interno em ascensão, as importações tendem a ganhar competitividade. Assim, se forma um cenário atrativo para a compra dos produtos internacionais. Um fator que pode agir no sentido contrário é a disponibilidade do Mercosul, que se encontra baixa para os próximos meses.

Uma dinâmica que pode causar uma disruptura nesse cenário e alterar o seu sentido é a política de controle da pandemia na China. Caso o país abrande os lockdowns, um reaquecimento da economia tende a ocorrer e a demanda por produtos lácteos pode voltar a se aquecer, causando um cenário altista para os preços internacionais, e consequentemente impactando negativamente na viabilidade das importações. O contrário é válido também.

Fontes: Milk Point e GDT